ABSOLVERE DEBET JUDEX POTIUS IN DUBIO QUAM CONDEMNARE.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE ATRAVÉS DOS TEMPOS, NO LADO OCIDENTAL DA TERRA

          Tem marco inicial a transformação da sociedade a partir do século XV, quando, de forma vinculada ocorre a expansão marítima, as reformas protestantes, a formação dos Estados nacionais, a revolução industrial e o desenvolvimento científico e tecnológico, e que, isso irá fazer que os intelectuais destes séculos passem a analisar profundamente essas mudanças e procurem explicar, cada qual à sua época, a natureza e a sociedade sob diversos ângulos.
            Com a expansão marítima ou as grandes navegações, como ficaram chamadas na época, ocorreram descobrimentos de mais rotas de comunicação entre o ser humano, de um continente para outro, quando então os europeus passarão a ter nova concepção e idéia de que haviam outros povos no mundo, e que, poderiam eles ter crenças, hábitos, economia e diversas outras formas de sobrevivência que poderiam ser diferentes das deles, e, ainda mais, totalmente desconhecidas.
            Nesse tempo de novas conquistas e descobrimentos ocorreram a expansão do comércio, de troca entre as metrópoles e as colônias, bem como entre os países europeus, e, já começa aí, entendemos nós, o capitalismo “selvagem” que os detentores das maiores economias passariam a implementar no mercado competitivo, já globalizando-o, tornando-o, começando-o com características mundiais. Nessa época, os grandes mercadores já começam a auferir altíssimos lucros, quando então, começaram a exploração de metais preciosos, principalmente na América e tráfico de escravos. Toda essa expansão territorial e comercial aceleraria o desenvolvimento da economia monetária, com a acumulação de riquezas, e que, mais tarde, traduziria papel importante no processo de industrialização da vida urbana da Europa.
            Para que a sociedade acompanhasse essa transformação econômica que estava atravessando o mundo fazia-se necessário que houvesse transformações de ordens políticas, pois vínhamos de uma estrutura totalmente fechada dos senhores feudais, e a realidade exigia políticas expansivas e abertas, sistemas jurídicos que pudessem dar sustentação às novas transações, e aí, no século XVI nasce o Estado, uma estrutura estatal que tem por base a centralização da justiça, sendo um sistema jurídico baseado no Direito Romano, tem-se a centralização da força armada com a formação dos exércitos, tem-se a centralização do sistema administrativo com toda linha hierárquica de campos de atuação de cada membro, tem-se a criação de um sistema de cobrança de impostos que permite a constante arrecadação para manter esse ente recém-criado em seus aspectos jurídicos, burocráticos e militares. Começa aí o Estado a criar e regular normas. Surge agora a expansão das atividades vinculadas ao desenvolvimento da produção têxtil, à mineração e à siderurgia, bem como ao comércio interno e externo. Notamos então que aqui também começa a industrialização urbana.
            Neste mesmo século, desenvolve-se outro movimento, o da Reforma Protestante, que, segundo entendem eles, que temos que dar valor ao conhecimento racional, que o homem deve ser livre para julgar, avaliar, pensar e emitir opiniões, que a capacidade racional do homem de conhecer e estudar as situações lhe permite, lhe dá possibilidade de explicar os fatos sociais, e, isso veio a ferir frontalmente a estrutura da Igreja, que até então era soberana na ordem de controlar o indivíduo dentro da sociedade baseada somente na ética, ética essa sem dar direito ao indivíduo de raciocínio próprio, era ele submetido em seu todo sob a tutela eclesiástica, seja no campo da fé, seja no campo das explicações que se propunham para a sociedade e a natureza.
            Ressaltamos aqui, para o século XVI, a contribuição de pensadores como Nicolau Maquiavel, Galileu Galilei, Thomas Hobbes, René Descartes, e, para o século XVII, os pensadores John Locke e Isaac Newton.
Já no final do século XVII, e, entrando no século XVIII a Inglaterra dá início a Revolução Industrial, pois não convinha mais a forma artesanal de produção que mantinha em sua economia, então dá início à mecanização dos sistemas de produção. A burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção acelerada, buscou alternativas para melhorar a produção de mercadorias. Tinham tudo a seu favor, o capital, daí passaram a investir em “inventos” de criação de máquinas de tecer, a máquina de descaroçar algodão, a aplicação industrial de máquina a vapor e outros tantos inventos destinados a aumentar a produtividade do trabalho, surgindo o fenômeno denominado de “maquinofatura”, que nada mais era que, os trabalhos que os homens realizavam com as mãos ou com ferramentas passavam, a partir de então, a ser feito por meio de máquinas, elevando muito o volume da produção de mercadorias.
Ocorre aqui, porém, que eram necessários os homens para a operação de tais equipamentos, e as fábricas do início da Revolução Industrial não apresentavam o melhor dos ambientes de trabalho, suas condições eram precárias, eram ambientes com péssima iluminação, abafados e sujos. Os salários recebidos pelos trabalhadores eram muito baixos e chegava-se a empregar o trabalho infantil e feminino em competição ao trabalho masculino. Os empregados chegavam a trabalhar até 18 horas por dia e estavam sujeitos a castigos físicos dos patrões. Não havia direitos trabalhistas como, por exemplo, férias, décimo terceiro salário, auxílio doença, descanso semanal remunerado ou qualquer outro benefício. Quando desempregados, ficavam sem nenhum tipo de auxílio e passavam por situações de precariedade.
Nessa época, uma das primeiras manifestações da Revolução foi o desenvolvimento urbano. Londres chegou a ter mais de um milhão de habitantes em 1800. O progresso deslocou-se para o norte; centros como Manchester abrigavam massas de trabalhadores, em condições miseráveis.
Houve consumo, aumentou-se a demanda de produtos e mercadorias, mas também houve desemprego, muitas paradas de operação de fábricas, muitos movimentos grevistas. Em muitas regiões da Europa, os trabalhadores se organizaram para lutar por melhores condições de trabalho. Os empregados das fábricas formaram as trade unions, ou sindicatos, com o objetivo de melhorar as condições de trabalho dos empregados. Houve também movimentos mais violentos como, por exemplo, o ludismo, também conhecidos como "quebradores de máquinas". Os ludistas invadiam fábricas e destruíam seus equipamentos numa forma de protesto e revolta com relação à vida dos empregados. Outro movimento denominado de cartismo foi mais brando na forma de atuação, pois optou pela via política, conquistando diversos direitos políticos para os trabalhadores.
No século XVIII tivemos a contribuição dos pensadores como David Hume, Jean-Jaques Rousseau, Adam Smith e Immanuel Kant, dentre outros.
No século XIX, a consolidação do sistema capitalista na Europa irá fornecer os elementos que servirão de base para o surgimento da Sociologia como ciência particular.
Dentre os diversos pensadores deste século, o francês Auguste Comte, passa a elaborar uma proposta para resolver os problemas da sociedade desta época, quando estava a sociedade em total desordem e anarquia, pois em conseqüência da confusão do momento, o homem não conseguia se identificar com os princípios metafísicos ou teológicos, que não mais se adequavam à sociedade industrial em expansão.
Propôs ele uma completa reforma da sociedade, cujo ponto de partida seria a reforma intelectual plena do homem, pois, modificando a forma de pensar do homem por meio de métodos da filosofia positiva, haveria, posteriormente, como conseqüência, a reforma das instituições.
Entendemos aqui que, o homem estando inserido no contexto “sociedade/instituição”, e, modificando seu modo de pensar, automaticamente estará ele implementando na sociedade/instituição toda a intelectualidade necessária para a excelente convivência do ser humano.
A Sociologia representava, para Comte, o coroamento da evolução do conhecimento, apesar de todos os métodos serem os mesmos das outras ciências, pois todas buscavam conhecer os acontecimentos constantes e repetitivos da natureza.
Comte exerce grande influência em sua época, principalmente, sobre os Estados Republicanos, seja na Europa, através de Émile Durkheim e de todos os seus contemporâneos e seguidores, seja na América Latina. No Brasil, seu legado está claro até hoje entre nós, através da Bandeira Nacional, em seu lema “Ordem e Progresso”.
Nessa época, também, surge outro pensador, o alemão Karl Marx, que, juntamente com Friedrich Engels, procurarão estudar a sociedade capitalista, sem que haja distinção entre os aspectos sociais, econômicos, políticos, ideológicos, religiosos, etc., pois nascia nessa época o regime socialista, oriundo da luta dos trabalhadores por melhores condições sociais e salários, donde fazia-se necessário a compreensão desta realidade, onde se pudesse desenvolver um pensamento capaz não só de explicar o que está ocorrendo, mas também de definir as possibilidades de intervenção nessa sociedade. Aqui ter conhecimento da realidade através da cientificação dos fatos é fator decisivo de intervenção, desde que, tenha como meta a transformação dessa realidade.  Note-se aqui que, novamente está inserido no contexto, indivíduo, sociedade, acontecimento e natureza, e, Marx e Engels, através de suas obras, procuram esclarecer e indivíduo na luta contra o capital.
Agora, aparece no cenário o seguidor de Marx – Émile Durkheim, que procura desenvolver seu raciocínio sociológico sobre a ótica que atravessa França, miséria e desemprego ao lado de grande progresso tecnológico com evolução da produção industrial na Europa, tudo isso proporcionando o fortalecimento das associações e organizações de trabalhadores projetadas em greves e aguçamento das lutas sociais.
Assim, neste terreno, Durkheim busca aprimoramentos de estudos da ordem social, nitidamente no campo dos valores morais, pois entendia ele que o indivíduo poderia encontrar nesse meio os valores mais eficazes para neutralizar as crises econômicas e políticas, criando então relação estável e solidária entre os homens.
Temos também outros pensadores, dentre eles citamos Max Weber, alemão, que via o indivíduo como ser capaz de definir suas intenções e finalidades para obtenção positiva de seus atos.
No Brasil, a Sociologia começa a dar seus primeiros passos a partir de 1865, sob forte influência do pensamento positivista “comtiano”. Pode se afirmar que a Sociologia coloca os seus alicerces no Brasil somente a partir de 1930/1940, pois a partir daqui procura definir claramente as fronteiras com outras áreas de conhecimento afins, como literatura, a história e a geografia.
Foram criadas escolas e universidades para formar técnicos, assessores e consultores capazes de produzir conhecimentos científicos sobre a realidade brasileira, definindo assim o espaço profissional dos sociólogos.
Dentre nossos estudiosos neste campo podemos citar Gilberto Freire, Oliveira Vianna, Fernando Azevedo, Sergio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior, que tiveram como mestres os professores estrangeiros que aqui vieram para alavancar nossa Sociologia.
Posteriormente, com nova visão tivemos outros sociólogos como Egon Shaden, Florestan Fernandes, Antonio Candido e outros. A partir da década de 1950/60 disseminaram as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras no Brasil, e a Sociologia vai fazer parte do currículo dos cursos de ciências sociais ou apresentar-se como independente em outros cursos. Florestan Fernandes foi um dos principais mentores dessa área. Temos também nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como expoente nesse campo.
No ensino médio, a disciplina de Sociologia teve sua entrada através da proposta de Benjamin Constant, mas com sua morte, teve sua decadência.
Atualmente, a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) recolocou a disciplina na estrutura curricular do ensino médio, afirmando que os alunos, ao final do período, devem obter conhecimentos sociológicos, deixando, entretanto, para os governos estaduais, núcleos regionais de ensino e até para as escolas a liberdade de definição do modo como serão passados esses conhecimentos.

Por:JOÃO ANTÔNIO GOBBI, LETÍCIA MARIAMACHADO

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